Nas disputas estaduais, para governador e senador, também houve divergências significativas entre as pesquisas do Ipec divulgadas entre sexta (30) e sábado (1º) e os resultados. Entre os cinco maiores colégios eleitorais do país – São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul – as principais dissonâncias foram observadas nos estados paulista, gaúcho e baiano.

A última estimativa do instituto para o governo de São Paulo apontava Fernando Haddad (PT) com 41% dos votos válidos, seguido de Tarcísio de Freitas (Republicanos) com 31%, e Rodrigo Garcia (PSDB) com 22%. Ao contrário do levantamento, quem saiu vitorioso numericamente, levando a disputa para o 2º turno, foi Freitas, que obteve 42,3%, frente a 35,7% de Haddad e 18,4% de Garcia.

Já na corrida para o Senado, o ex-ministro do governo Bolsonaro Marcos Pontes (PL) tinha votos válidos estimados em 31%, contra 43% de Márcio França (PSB). Pontes, no entanto, saiu vencedor com quase 50% dos votos válidos.

Já no Rio Grande do Sul, as estimativas mencionaram que o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) obtinha 40% da preferência do eleitorado, ante 30% de Onyx Lorenzoni (PL). De forma semelhante a São Paulo, os postos se inverteram e o ex-ministro de Bolsonaro ficou à frente com 37,5% das intenções de voto, enquanto Leite somou 26,81%. No estado, a disputa também foi ao segundo turno.

No estado gaúcho, houve uma diferença bastante significativa também para o Senado. No último levantamento, foi estimado 23% para o vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos), o que o colocava em terceiro lugar na disputa para a única vaga ao Senado. Ele, no entanto, somou 44,1% e ficou com a vaga.

Um outro estado em que houve mudança nas colocações foi a Bahia – O Ipec apontou possível vitória de ACM Neto (União Brasil) já no 1º turno, com 51% dos votos. No entanto, quem por pouco não venceu já neste turno foi Jerônimo Rodrigues (PT), que obteve 49,3% de votos – a projeção para o petista era de 40% dos votos. ACM Neto ficou em segundo lugar nas urnas, com 40,9%.

A estimativa para o confronto baiano para o Senado não sofreu tantas divergências - Otto Alencar (PSD) foi eleito com 58,2%, enquanto o levantamento apontava 54%

Já no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, os candidatos estimados nas pesquisas como primeiros colocados para o governo mantiveram o primeiro posto. No estado fluminense, o levantamento estimava 47% dos votos para o atual governador Cláudio Castro (PL), levando a definição para o 2º turno. Castro, no entanto, somou 58,6% e sagrou-se vitorioso já no 1º turno, em disputa com Marcelo Freixo (PSB).

A vaga de senador do Rio de Janeiro era prevista na pesquisa para Romário (PL) com ampla facilidade – 41% dos votos. A disputa, porém, não foi tão fácil; o ex-jogador saiu vitorioso, mas com 29,1% dos votos.

No estado mineiro, por fim, Romeu Zema (Novo) somava 50% no último levantamento do Ipec, divulgado neste sábado. Alexandre Kalil (PSD) vinha em segundo com 42%. O candidato do Novo, entretanto, obteve 56,2% da preferência do eleitorado e conquistou a reeleição no 1º turno, enquanto Kalil somou 35% dos votos.

Para o Senado, foram estimados 33% de votos válidos para Cleitinho Azevedo (PSC), que de fato venceu a disputa, mas com 41,5%.

Pesquisador explica divergências entre pesquisas eleitorais e resultado das eleições

Na avaliação de Raphael Nishimura, estatístico e diretor de Operações de Amostragem em Pesquisas de Levantamento da Universidade de Michigan, há diferentes fatores que fazem com que não seja raro que pesquisas pré-eleitorais mostrem, em dias anteriores e até mesmo na véspera da eleição, números diferentes do resultado das urnas. Essas pesquisas, segundo o especialista, representam um retrato do exato momento em que os dados foram colhidos, o que inviabiliza mensurar decisões que venham a ser tomadas de última hora pelos eleitores.

“Parte significativa do eleitorado acaba decidindo o voto no dia anterior, na noite anterior, ou até mesmo no próprio dia da eleição, em alguns casos na própria seção eleitoral. E aí, obviamente, como a pesquisa foi realizada num momento anterior, elas não vão conseguir captar essas mudanças”, explica o estatístico, que aponta números expressivos de abstenções como outro fator que pode impactar nessas divergências.

Para Nishimura, nos cargos cuja eleição se dá no sistema majoritário, que é o caso da presidência da República, o voto do eleitor costuma ser decidido com mais antecedência. Mas para os cargos de senador e deputado federal, por exemplo, que ocorrem no sistema proporcional, é mais comum que haja essas decisões de voto em cima da hora. Tal comportamento pode fazer com que pesquisas eleitorais para os cargos do sistema proporcional tendam a ter uma discrepância ainda maior.

Já quanto às dissonâncias nos números entre os próprios institutos, o estatístico diz que as escolhas metodológicas de cada entidade impactam diretamente nos resultados. O modo de coleta é o principal fator de impacto – pesquisas presenciais e por telefone, por exemplo, tendem a apresentar divergências. “Pesquisas por telefone têm um problema de cobertura da população, pois só conseguem cobrir pessoas que têm o a um telefone. Mesmo que hoje em dia um grande percentual da população tenha o, ainda existe uma diferença relevante entre as pessoas que não têm, principalmente com relação à renda, um dos fatores que podem estar associados ao voto”, aponta.

Metodologias das pesquisas citadas

Nacionais

Datafolha: O Datafolha entrevistou 12,8 mil eleitores entre os dias 30 de setembro e 1º de outubro em 310 municípios do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-00245/2022.

Ipec: O Ipec entrevistou 3.008 eleitores entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro de 2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e está registrada no TSE com os protocolos BR-00999/2022 e BR‐01640/2022.

Quaes: A pesquisa foi realizada pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 3,6 mil eleitores presencialmente entre os dias 30 de setembro e 1º de outubro de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o protocolo BR-02444/2022.

Ipespe: A pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) em parceria com a Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), ouviu 1,1 mil eleitores no dia 30 de setembro de 2022. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 95,45%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-05007/2022. Veja aqui o relatório da pesquisa (em PDF).

Instituto MDA: A pesquisa realizada pelo instituto MDA foi realizada por telefone entre os dias 28 e 30 de setembro de 2022, por encomenda da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). A amostragem é de 2.002 eleitores brasileiros com 16 anos ou mais, com margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos e nível de confiança é de 95%. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-02944/2022.

Estaduais

Ipec São Paulo: A pesquisa eleitoral do Ipec, encomendada pela TV Globo, entrevistou 2.000 eleitores em São Paulo entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob os protocolos SP-05847/2022 e BR-03126/2022.

Ipec Rio De Janeiro: A pesquisa eleitoral do Ipec, encomendada pela TV Globo, entrevistou 2.000 eleitores no Rio de Janeiro entre os dias 25 de setembro e 1º de outubro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo RJ-01526/2022.

Ipec Minas Gerais: A pesquisa eleitoral do Ipec, encomendada pela TV Globo, entrevistou 2.000 eleitores em Minas Gerais entre os dias 25 de setembro e 1º de outubro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob os protocolos MG-09012/2022 e BR-06476/2022.

Ipec Bahia: A pesquisa eleitoral do Ipec, encomendada pela TV Bahia, entrevistou 2.000 eleitores no estado da Bahia entre os dias 25 de setembro e 1º de outubro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BA-01710/2022.

Ipec Rio Grande do Sul: A pesquisa Ipec entrevistou 1.808 eleitores do Rio Grande do Sul entre os dias 28 e 30 de setembro. A margem de erro do levantamento é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. O levantamento está registrado na Justiça Eleitoral com o número RS-04427/2022.

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