Um dos motivos cruciais para a saída de Sergio Moro do Podemos, que havia se comprometido a levar sua candidatura presidencial até o fim, foi a falta de verbas e estrutura para uma campanha nacional. Aliados do ex-ministro ressentiam-se também da falta de apoio interno, uma vez que parte da bancada de deputados federais do partido reivindicava uma fatia maior do fundo eleitoral para priorizar suas próprias reeleições.
A avaliação é que a campanha de Moro sugaria a maior parte dos recursos – estima-se que o Podemos terá cerca de R$ 190 milhões neste ano para todos os seus candidatos. Neste ano, mesmo após a filiação do ex-juiz, o partido viu diminuir seu tamanho na Câmara.
Se antes da janela partidária – período de um mês, durante março, em que a troca de legendas é liberada – o Podemos tinha 11 deputados federais, ao final, ficou com nove – quatro deputados deixaram a legenda e dois ingressaram. No primeiro grupo, havia deputados que apoiam Bolsonaro – como José Medeiros (MT), que foi para o PL; e Diego Garcia (PR), que migrou para o Republicanos – quanto apoiadores de Lula – caso de Bacelar (BA), que mudou para o PV.
Interlocutores de Moro dizem que pesou para a saída do partido um boicote que a própria direção partidária começou a fazer em relação à sua campanha. Insatisfeitos com a paralisação dele nas pesquisas de intenção de voto, alguns dirigentes aram a ficar cada vez mais descrentes com a possibilidade de vitória na corrida presidencial e avaliaram que gastar recursos numa campanha nacional seria desperdiçar recursos.
Também não ficou evidente o potencial de Moro puxar votos para aumentar a bancada de deputados federais – é esse número que define o quanto o partido terá de recursos públicos para sobreviver. O plano do partido é aumentar sua bancada federal.
A mesma estagnação nas pesquisas foi apontada, internamente, como motivo do desinteresse de outros partidos firmarem alianças ou mesmo uma federação. O Cidadania, por exemplo, que cogitou inicialmente juntar-se ao Podemos, acabou optando por uma federação com o PSDB.
A expectativa de Moro de que, no União Brasil, sua pré-candidatura ganharia mais força não durou um dia. No mesmo 31 de março, data da filiação, a ala oriunda do DEM reiterou que ele seria bem-vindo para “construir uma candidatura em São Paulo pela legenda”.
A nota foi assinada por antigos caciques do partido, com poder em estados do Nordeste que seriam cruciais para uma candidatura presidencial competitiva, uma vez que, segundo as pesquisas, Lula atualmente tem ampla vantagem na região.
Subscreveram o repúdio a uma candidatura de Moro à Presidência o prefeito de Salvador, ACM Neto, herdeiro da família mais tradicional da política na Bahia; o deputado federal Efraim Filho, que tem grande influência sobre prefeitos na Paraíba; o ex-senador José Agripino Maia, chefe de um clã no Rio Grande do Norte; além de Mendonça Filho, ex-ministro com projeção sobre a política de Pernambuco. Também am a nota o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, mais próximo de Bolsonaro; o senador Davi Alcolumbre, do Amapá, e um dos maiores críticos da Lava Jato no Congresso.
O interesse maior é que ele se candidate a deputado federal, o que serviria para puxar votos e eleger outros candidatos à Câmara no estado. A declaração de Moro, no dia seguinte, descartando essa hipótese e de que não desistiria da pretensão presidencial, só piorou sua situação internamente. A mesma ala do DEM ou a ameaçar impugnar sua filiação.
A tensão interna só arrefeceu depois que Luciano Bivar, presidente do União e que comanda a ala proveniente do PSL – partiu dele a promessa a Moro de apoio à sua candidatura presidencial, na expectativa de que ele, Bivar, poderia ser candidato a vice-presidente – assinou uma nota conjunta com ACM Neto declarando que a filiação de Moro “tem como objetivo a construção de um projeto político-partidário no estado de São Paulo”.
Um plano B e que ainda não foi descartado por Moro é uma candidatura ao Senado. Mas ele mesmo considera que enfrentará uma competição difícil, que, para apenas uma vaga, têm como pré-candidatos o apresentador José Luiz Datena (PSC), a deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB) e, talvez, o ex-governador Márcio França (PSB) – se ele desistir de sua pré-candidatura ao governo de São Paulo.
Outra fonte de aborrecimento veio de fora: petistas começaram a questionar a mudança de seu domicílio eleitoral para São Paulo. Filiada ao partido, a empresária Roberta Luchsinger acionou o Ministério Público Federal para investigar o caso, alegando que Moro não tem qualquer ligação com o estado.
A defesa do ex-juiz está convicta de que a nova filiação, já aprovada pela Justiça Eleitoral, será mantida com base na jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que ite, para a mudança de domicílio, a demonstração de “vínculos políticos, econômicos, sociais e familiares”, sem necessidade de fixar residência no local – Moro mora em Curitiba e aluga um flat na zona sul da capital paulista.
Ainda que parte do Podemos já quisesse abandonar Moro, sua saída repentina do partido deixou outra ala, que lhe era favorável, frustrada. O maior representante desse grupo é o senador Alvaro Dias (PR), que abriu as portas da legenda para o ex-juiz.
Em entrevistas recentes, ele tem dito que seria possível manter a candidatura presidencial de Moro no Podemos e que sua migração para o União Brasil acabou se revelando uma má escolha.
“A tentativa de fugir do isolamento o leva ao União Brasil, que o prende, e ele não será candidato a presidente, o partido já anunciou isso. Portanto, o sonho foi sepultado. A movimentação feita nos últimos dias, com essa mudança partidária, me parece ter sido um tiro no pé”, disse Alvaro à rádio Jovem Pan.
A saída de Moro também acabou prejudicando outros pré-candidatos que se filiaram à legenda por sua influência. Foi o caso do general Santos Cruz, que desistiu de disputar uma cadeira na Câmara pelo Distrito Federal, e também da professora Catarina Rochamonte, que teve a pré-candidatura a deputada federal vetada pelo diretório do Podemos no Rio Grande do Norte.
O único forte apoiador de Moro que se manteve no Podemos e ainda está com a pré-candidatura de pé é o ex-procurador Deltan Dallagnol.
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A resistência do União Brasil em lançar Moro como pré-candidato à Presidência deu fôlego para outros pré-candidatos da chamada “terceira via” ou do “centro democrático”, que querem se cacifar à Presidência. Daí a intensificação das conversas, nos últimos dias, em torno da senadora Simone Tebet e do ex-governador Eduardo Leite.
O problema dos dois é mesmo pelo qual ou Moro: não contar com consenso e apoio maciço de seus respectivos partidos para lançá-los a presidente na disputa eleitoral. Boa parte do MDB, especialmente dos velhos caciques do Nordeste – como Renan Calheiros –, prefere apoiar Lula.
Leite tem força no PSDB, mas o partido ficou preso ao resultado das prévias internas do ano ado que escolheu João Doria como candidato ao Planalto. Ele garantiu o apoio do presidente da sigla Bruno Araújo depois de, em um blefe, ameaçar abandonar a pré-candidatura e permanecer no governo paulista, o que frustraria a articulação do seu vice, Rodrigo Garcia, para assumir a gestão do estado e concorrer com força à reeleição.
Contra todos eles, ainda pesa a pretensão de cada um de encabeçar a chapa, sem que o outro abra mão. É o caso também de Ciro Gomes (PDT), que já sinalizou, por meio de intermediários, abertura para conversar com os demais, sobretudo após a saída de Moro, um desafeto, mas também sem itir a possibilidade de ceder o lugar a outro pré-candidato.
Nesta quarta, numa reunião entre os presidentes do União, Luciano Bivar; do MDB, Baleia Rossi; do Cidadania, Roberto Freire; e do PSDB, Bruno Araújo; os partidos anunciaram o plano de apresentar, em 18 de maio, o nome de um candidato único. O União deverá divulgar seu escolhido em 14 de abril, para testar se ele terá apoio dos demais. Pode ser a última chance de Moro, mas, para isso, ele ainda terá de conquistar apoio interno no partido.
A pesquisa Ipespe citada nesta reportagem foi realizada entre os dias 2 e 5 de abril de 2022, a pedido da XP Investimentos. A amostra é de mil eleitores brasileiros, a margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-03874/2022.