“Não é possível, com esses dados, analisar município a município”, prossegue ele. “Conseguimos, contudo, olhar grupos de municípios mais vulneráveis e de maior risco. E reabertura das escolas ao longo desse período não aumentou a atividade da doença nem mesmo nos municípios com maior severidade da pandemia, mais pobres, com pior qualidade da infraestrutura das escolas ou com maior população idosa”. 3i5r41
Como se explicam esses resultados? “Uma combinação de três fatores”, responde o pesquisador. “Protocolos de reabertura segura, mesmo que imperfeitos, com limites de capacidade, uso de álcool em gel e equipamentos de segurança. Além disso, a comunidade escolar representa uma pequena parcela da população dos municípios”.
Os pesquisadores afirmam que o terceiro fator é o fato de que, naquele momento, a frequência de circulação de pessoas em São Paulo era semelhante aos níveis pré-pandemia. Independentemente de as escolas estarem abertas, “segundo os dados da rede genômica da Fiocruz, diversas linhagens do vírus já estavam circulando no estado no período”.
Resultado: mesmo com 1700 escolas reabertas e 2 milhões de alunos voltando às atividades presenciais, não houve diferenças significativas entre as cidades que abriram as escolas, em relação às que não abriram.
Em abril de 2020, mais de 1,7 bilhão de alunos, de 156 países, estava em casa. Ao longo do segundo semestre, muitas nações ensaiaram reabrir as instituições de ensino, ainda que parcialmente. No estudo, os pesquisadores lembram que, no mundo todo, “boa parte desses estudantes vivem em países em desenvolvimento, com o limitado a serviços e à conectividade de internet necessária para aprender à distância adequadamente”.
Nestes locais, afirmam os pesquisadores, “os custos educacionais do fechamento de escolas são potencialmente muito grandes. Como resultado, sete milhões de estudantes de todo o mundo não deverão retornar às escolas quando as atividades presenciais retornarem”.
No Brasil, depois de sete meses fechadas, em outubro de 2020, 11 estados haviam retomado as atividades. No estudo, os pesquisadores explicam que, tradicionalmente, crianças são vetores de gripes comuns, e que esse fator poderia representar risco.
Mas lembram que, ao menos até o final do ano ado, casos da doença entre crianças eram mais raros do que em adultos. Além disso, “em muitos países desenvolvidos, com poucos meses de pandemia, a restrição a bares e restaurantes, em particular, foi retirada, antes mesmo da reabertura de escolas”.
Em São Paulo, as escolas começaram a voltar em setembro, de forma gradual, num processo que se acelerou em meados de outubro. A análise abrangeu o período de 7 de outubro até 12 semanas após as escolas fecharem novamente, em 17 de dezembro, para as férias. Depois de separar em dois grupos os municípios paulistas, entre os que aderiram à reabertura e os que não o fizeram, os pesquisadores utilizaram dados oficiais do Ministério da Saúde para comparar oscilações no número de casos e de mortes por Covid-19.
Também levaram em conta a infraestrutura das escolas, os indicadores socioeconômicos dos municípios e o percentual de idosos em cada município, além das taxas de isolamento social. Concluíram que a reabertura das escolas não provocou oscilações nos casos de Covid-19, nem mesmo entre as crianças que retomaram as atividades presenciais.
“Podemos afirmar, com margem de confiança de 95%, que a reabertura não levou municípios a subir no ranking estadual de casos e mortes”, é a conclusão.
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