Entre as empresas não financeiras, o destaque está com as exportadoras de commodities. A Vale, por exemplo, teve um lucro de R$ 30,5 bilhões, o maior da história de uma companhia de capital aberto num primeiro trimestre.
“As empresas exportadoras, principalmente aquelas que têm forte exposição à China, estão indo bem”, explica Serra. E, segundo Frederico Loss, da Allez Invest, elas deverão surfar nesta onda enquanto houver grande liquidez no mercado internacional. "Isso vai impulsionar o consumo”, diz.
Segundo a XP Investimentos, nos segmentos de mineração e siderurgia, 100% das empresas reportaram resultados acima ou em linha com as expectativas, beneficiadas pela alta nos preços do minério de ferro (de 25% no comparativo entre o primeiro trimestre de 2020 e o de 2021) e cobre (17%).
“Pelo menos até o fim do ano este cenário favorável para as matérias-primas deverá se manter, mesmo com uma pressão para a valorização do real frente ao dólar. O motivo é que a recuperação econômica mundial não é homogênea”, explica Jennie Li, estrategista da XP Investimentos.
Mas há sinais de alerta no ar. A Comissão de Reforma e Desenvolvimento (NDRC, na sigla em inglês) da China alertou na segunda-feira (24) que irá "punir severamente" monopólios de commodities, por avaliar que a recente alta nos preços se deve a "especulação excessiva". Em reação, os contratos futuros de minério de ferro perderam valor no decorrer da semana.
A expectativa, entretanto, é de que o bom momento continue. A demanda mundial deve continuar aquecida, em parte por causa dos estímulos fiscais e monetários de algumas das principais economias do mundo. A projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que o PIB global se expanda 6%, a maior alta desde o início da série histórica, em 1980.
E, do lado do Brasil, segundo Serra, há um cenário mais confiante em relação à economia. “A expectativa é de que a vacinação avance e as medidas de restrição à circulação sejam menos severas nos próximos meses.”
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Outro segmento que também vem mostrando bons resultados, de acordo com o gerente de research da Ativa Investimentos, é o bancário.
Segundo a Economatica, a receita de intermediação financeira nos quatro maiores bancos de capital aberto teve uma queda de 23,4% no comparativo entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021, atingindo R$ 138 bilhões. Mas os lucros aumentaram 35,2%, indo para R$ 18,6 bilhões.
Com o temor de aumento na inadimplência, os bancos mantiveram fortes provisões para devedores duvidosos no primeiro trimestre do ano ado. Até março deste ano, houve uma queda de 51,2% nas provisões, de acordo com os dados da consultoria, o que melhorou os resultados.
Empresas e consumidores estão procurando mais crédito nos bancos. O saldo de empréstimos no Sistema Financeiro Nacional (SFN) atingiu 54,4% do PIB em março, um recorde histórico. A carteira de crédito cresceu 15,4% em 2020, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e deve ter uma expansão de 9% a 10% neste ano, apontam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.
A tendência é de que as ações se valorizem mais à medida que a economia mostre mais sinais de aceleração – nas últimas cinco semanas o ponto médio (mediana) das previsões no relatório Focus, do BC, para o crescimento da economia em 2021 ou de 3,04% para 3,52%. E vários bancos já preveem taxas superiores a 4% ou até 5%, que, se confirmadas, representariam a maior alta do PIB em 11 anos. Até quinta-feira (27), o Ibovespa acumulava uma valorização de 4,5% no ano.
“E desde abril estamos assistindo a uma descompressão dos ativos brasileiros, porque não temos ruídos políticos”, diz Jennie Li, da XP.
Segundo ela, apesar das preocupações macroeconômicas do primeiro trimestre, a "história micro" das empresas segue construtiva. “Várias empresas se mostraram resilientes em meio ao cenário doméstico, com restrições de mobilidade, enquanto empresas com exposição à forte recuperação econômica global continuaram a se destacar.”
Outro fator que impulsiona as expectativas em relação à Bolsa é o baixo rendimento da renda fixa, apesar da expectativa de que o juro básico siga em alta. A sinalização no relatório Focus é de uma Selic de 5,5% ao final do ano, com um IPCA de 5,24%. Nesse cenário, diz Jennie, o investidor que quiser uma maior rentabilidade terá de buscar a renda variável, como as ações.
Loss, da Allez, vê um grande potencial de retorno, pois avalia que a bolsa brasileira está barata. E segmentos que podem se destacar, segundo ele, são o financeiro, o varejo e o turismo, estes dois últimos beneficiados por um possível avanço na vacinação contra a Covid-19, o que contribuiria para reduzir o número de casos e óbitos causados pela doença e exigiria bem menos medidas restritivas de circulação.