“O trabalhador desempregado que percebe essa dificuldade em alcançar as possíveis empresas em que conseguiria emprego fica em uma condição defensiva. Com o governo dando um alento por meio do auxílio emergencial, ele sabe que tem condições de aguardar um pouco para poder fazer a busca por trabalho”, diz José Roberto Ferreira Savoia, professor de Finanças da Faculdade de Economia, istração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP). 22b4e
Na visão dele, entretanto, o fator que mais estimulou o desalento foi a intensidade da crise. “A minha sensação é de que as pessoas estavam muito mais preocupadas pelo fato de o desemprego ter sido muito rápido e em todas as regiões do país”, completa.
No emprego formal, por sua vez, o impacto da crise foi mitigado pela Medida Provisória 936, editada pelo governo federal em abril. Com o texto, as empresas ficaram autorizadas a fazer acordos de suspensão de contratos e de redução de jornada, com consequente diminuição dos salários, por dois ou três meses, respectivamente.
Nesses casos, o trabalhador recebe um auxílio do governo, chamado Benefício Emergencial, calculado de acordo com o seguro-desemprego a que teria direito. O Congresso já aprovou a prorrogação do programa por mais dois meses no caso da suspensão de contrato, e por mais um mês para a redução de jornada. O texto, porém, ainda aguarda a sanção do presidente Jair Bolsonaro.
Até agora, de acordo com o do governo, o programa registra mais de 12 milhões de acordos – menos que os 24,5 milhões de trabalhadores celetistas que estavam na estimativa inicial do Ministério da Economia. Com isso, houve a manutenção destes postos de trabalho, o que resultou no panorama menos severo na comparação com o mercado informal.
Mesmo assim, de acordo com os dados do último Caged, houve fechamento de quase 332 mil vagas de trabalho em maio. Somando os resultados deste mês com os de março e abril, o saldo entre contratações e demissões ficou em -1,48 milhão de vagas.
“Normalmente, a lógica em períodos de crise é de que o ajuste nas empresas seja feito por meio da demissão de pessoas. Dessa vez, o maior ajuste que ocorreu no setor formal foi nas issões, que caíram muito. As demissões aumentaram, mas as contratações caíram muito mais – e, com isso, continuamos perdendo vagas”, explica João Saboia, da UFRJ.
A tendência fica clara quando é considerada a variação das issões e dos desligamentos de um mês para o outro. Em abril, as contratações caíram quase 56% na comparação com o mês anterior, enquanto as demissões diminuíram somente 8,2%.