O carro-chefe, inicialmente, seria o Renda Brasil, mas o próprio Bolsonaro sepultou o programa. Para ser viável, o Renda Brasil exigiria a fusão de outras ações e medidas severas, como o congelamento de aposentadorias e pensões. Isso desagradou muito Bolsonaro, que declarou reiteradamente que "não tiraria dos pobres para dar aos paupérrimos". 2u253h

Além disso, indefinições em relação ao valor médio a ser pago no novo programa de transferência de renda atrasaram esse anúncio. Inicialmente, segundo noticiou o jornal O Estado de S.Paulo, a proposta teria um benefício médio de R$ 247, o que desagradou o presidente Bolsonaro, que esperava um valor superior a R$ 300.

A preocupação da equipe econômica, comandada por Paulo Guedes, era obter uma bolsa mensal superior ao que era desembolsado pelo Bolsa Família (em torno de R$ 190), mas que não comprometesse o equilíbrio das contas públicas, já que não há margem fiscal para expansão de gastos.

Revisão de programas estava no radar da equipe econômica 662p3x

A discussão para a ampliação do Bolsa Família e transformação em Renda Brasil sempre ou pela revisão de programas que eram considerados ineficientes pela equipe econômica. E isso ou a incomodar muito o presidente Jair Bolsonaro, que encerrou as discussões sobre o programa.

Inicialmente, os principais “alvos” da equipe econômica eram o abono salarial, o seguro-defeso, o Farmácia Popular e o salário-família, que seriam fundidos ao Bolsa Família para viabilizar o novo programa.

Reportagem da Gazeta do Povo já havia mostrado que a unificação apenas do Bolsa, abono e seguro-defeso renderia um valor anual em torno de R$ 50 bilhões, com base no orçamento de 2019, que contava com verbas extraordinárias para esses programas.

Esse valor, embora superior ao orçamento do Bolsa Família, poderia ser insuficiente a depender da quantidade de beneficiários que fossem integrados ao novo programa. Além da questão orçamentária, também há um forte componente político na questão: o programa precisa ar pelo crivo do Congresso.

Bolsa Família era marco da gestão petista 73431l

O Bolsa Família também nasceu da junção de outras políticas públicas já existentes. Criado em 2003, no primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a programa unificou políticas criadas na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB): bolsa escola, bolsa alimentação, auxílio-gás e o programa nacional de o à alimentação. O objetivo principal era de atender famílias em condição de pobreza e extrema pobreza.

Modificado ao longo dos anos, o último desenho do Bolsa Família continha o pagamento de um benefício básico, de R$ 89. e outros variáveis, de acordo com número de filhos e mulheres gestantes e lactantes, por exemplo. Além disso, havia um benefício calculado individualmente, voltado especificamente para as famílias mais vulneráveis.

Ainda que alvo de críticas, o Bolsa Família tem méritos que o tornaram referência mundial em termos de ações de transferência de renda. O programa é bem focalizado e, por isso, custa pouco (cerca de 0,5% do PIB). Isso faz com que ele acabe trazendo um retorno maior para a economia na comparação com outras medidas de assistência social, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), e até mesmo que a Previdência.

O programa, mesmo com falhas e denúncias de fraude, trouxe resultados concretos. Uma análise feita pelo Ipea sobre os 15 anos do Bolsa Família mostrou que houve redução de 25% da extrema pobreza em 25% e de 15% da pobreza nesse período.

A repaginação para o Renda Brasil não foi a primeira alteração feita pelo governo Bolsonaro na área. No ano ado, a gestão pagou um 13.º benefício às famílias. Além disso, enquanto o Ministério da Cidadania esteve sob comando de Osmar Terra, havia um entendimento de que o principal objetivo do programa, que seria complementação de renda, estava desvirtuado.

Na época, a pasta informou que “devido às frequentes mudanças no cenário econômico, o programa necessita ar por um redirecionamento”. Técnicos do ministério vinham se debruçando “em estudos para aperfeiçoar a gestão do programa e os processos de inclusão, exclusão e manutenção de famílias na folha de pagamento, com o objetivo de beneficiar os que realmente precisam”.

Para 2020, o programa encolheria e não havia garantia de pagamento de benefício extra. Mas, a pandemia mudou tudo e a implantação do auxílio emergencial, que produziu efeitos muito positivos na economia, acabou impulsionando a reformulação do programa.

Para 2021, o governo já previa uma ampliação do programa, com orçamento de R$ 34,8 bilhões e atendimento de 15,2 milhões de famílias.