Outra questão fundamental é a formação da equipe econômica. “Temos assegurado o presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto], mas é importante saber quem vai pilotar a Fazenda e quem vai ser sua equipe. O nome traz uma história e vai indicar um maior ou menor comprometimento com o ajuste fiscal”, diz o CIO da Portofino. 2l3m6e
Encontram forte respaldo no mercado nomes como os de Bernard Appy, secretário de Política Econômica entre 2003 e 2008; Persio Arida e André Lara Resende, dois dos pais do Plano Real e que estão na equipe de transição de governo; e o ex-presidente do Banco Central (no governo Lula) e ex-ministro da Fazenda (no governo Temer), Henrique Meirelles.
Por outro lado, encontram resistência nomes como os dos petistas Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda do governo Dilma e integrante da atual equipe de transição, e Fernando Haddad, candidato derrotado ao governo de São Paulo.
Apesar dos sinais de desaceleração nos últimos meses, Tanus, da Allianz Trade, aponta que a economia termina bem o mandato de Jair Bolsonaro com um crescimento do PIB em torno de 2,8% e inflação caindo. O desemprego também está em baixa: a taxa do trimestre móvel encerrado em setembro foi de 8,7%, a menor desde julho de 2015.
“A economia mostra uma foto boa, a dúvida é em relação ao filme. Dependemos muito das circunstâncias a seguir”, diz Castro, da Portofino.
Ele destaca que o Brasil já está colhendo os frutos de um longo processo de restruturação iniciado do governo FHC (1995-2002), com o processo de privatizações, e que ganhou força nas gestões Temer e Bolsonaro. “As melhorias vão se somando.”
Para Castro, um o importante foi dado com a indicação do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, para coordenar o processo de transição. Entre as reformas, a que está mais encaminhada é a tributária, com dois projetos tramitando no Congresso: as PECs 45 e 110.
Fora do Brasil, preocupa a situação da economia mundial. “É um panorama bem mais desafiador do que Lula encontrou ao assumir seu primeiro mandato, em 2003. Há fortes riscos de recessão lá fora, os preços estão pressionados e há os desdobramentos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia”, ressalta a economista-chefe da Reag Investimentos.
A XP Investimentos aponta que a economia global deve se enfraquecer bastante no próximo ano, motivada por pressões inflacionárias persistentes, riscos geopolíticos mais elevados e condições financeiras mais apertadas.
O cenário é bastante complicado, com inflação elevada. Nos Estados Unidos, ela está em 8,2% ao ano, puxada pelos preços da comida e da energia. No Reino Unido, em 10,1% ao ano. Na União Europeia, a prévia da inflação nos 12 meses encerrados em outubro sinaliza para uma alta de 10,7% nos preços ao consumidor.
“Os bancos centrais não conseguem dar e no atual momento. Eles estão sendo obrigados a apertar os cintos e aumentar os juros. O mundo a por um processo inflacionário. É um cenário mais restritivo”, destaca Varejão.
Castro, da Portofino, diz que a Europa deve enfrentar uma recessão severa, motivada também pela crise energética, e os Estados Unidos estão em uma fase de ajuste na política monetária, com alta nos Fed Funds, a taxa referencial de juros. Atualmente, ela está entre 3,75% e 4%. As expectativas sinalizam que ela pode chegar a 5% no ano que vem.
A China também está lidando com os problemas causados pela Covid-19. O gigante asiático está com uma política de tolerância zero, determinando lockdowns nas áreas afetadas, o que reduziu o crescimento econômico. As projeções de expansão do PIB chinês feitas pelo FMI caíram de 4,4% em abril para 3,2% em outubro.