“A despeito da sinalização de redução do déficit primário ser positiva, a ausência de delineados acerca do novo regime fiscal, em substituição ao teto de gastos, mantém os agentes financeiros no escuro. O pacote é, de certa forma, um ‘band-aid fiscal’ que pode se tornar ineficaz a depender do arcabouço a ser instaurado”, analisa Antonio van Moorsel, da Acqua Vero Investimentos. 126l72

Artur Muxfeldt vai além e vê as medidas apresentadas como um “paliativo” para se tentar diminuir o rombo nas contas públicas, mas que careceu de uma discussão mais ampla com a sociedade e com o Legislativo. Para ele, muito do resultado prático vai depender do que vier mais para frente de reformas estruturais, como a tributária.

É a mesma visão do economista tributarista e ex-deputado federal Luiz Carlos Hauly, fundador do Movimento Destrava Brasil, que considera o pacote “bem intencionado”. No entanto, ele alerta para a “necessidade imperiosa e urgentíssima de fazermos a reforma tributária ampla, como está prevista na PEC 110, no tripé simplificação do sistema tributário, cobrança eletrônica 5.0 e redistribuição da carga tributária para as famílias de baixa renda”.

Para os economistas do TC, a expectativa é de que o déficit primário feche o ano de 2023 entre R$ 100 bilhões e R$ 130 bilhões, com poucas chances de o ajuste fiscal dar todo o retorno esperado pela equipe econômica.

“No nosso cenário base, a trajetória de despesas vai se deteriorar neste ano, o que não surpreende. Ao olharmos as medidas anunciadas pelo ministro Haddad, entendemos que será um pouco pior. A questão central é discutirmos a regra fiscal para o próximo ano e a dificuldade de se cumprir a expectativa do governo de zerar o déficit em dois anos”, completa o economista Fabrício Silvestre.

O relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI) segue a mesma linha e prevê um déficit de R$ 120,5 bilhões neste ano e de R$ 83,6 bilhões em 2024, por conta da desaceleração da economia doméstica e externa e do aumento das despesas públicas.

“O contexto é de muitas pressões por aumento de despesas, ao mesmo tempo em que a arrecadação tende a cair no próximo ano em razão da desaceleração da atividade econômica, da acomodação da inflação em níveis mais baixos e da possibilidade de redução nos preços de commodities. Assim, a forma como a questão da sustentabilidade das contas públicas do país será endereçada no curto prazo representará um importante elemento de dispersão das incertezas e de reconquista da credibilidade da política fiscal”, diz o relatório.

A XP Investimentos considera ser difícil estabilizar a dívida pública em dois anos, como pretende Haddad. Para a corretora, isso não deve acontecer pelo menos até o fim desta década. No entanto, a expectativa dos economistas é de que o rombo nas contas públicas seja menor do que o previsto por parte do mercado, com uma previsão de R$ 84 bilhões para 2023 e de R$ 55,7 bilhões para 2024.