“Basicamente o boicote à Rússia vem da Europa, Estados Unidos, Austrália e Japão, além de algumas economias da África e da América Latina. Não é a maioria dos países, e a gente tem observado que outras nações, em razão dos descontos que a Rússia tem dado em termos de preços, tem elevado significativamente a compra de diesel russo”, afirma. É o caso de China e Índia, por exemplo. “O Brasil já importa alguns produtos da Rússia, especialmente fertilizantes, em uma quantidade considerável”, lembra. 4bh3f

É a mesma tese defendida pelo ministro de Relações Exteriores do Brasil. “A Rússia é um parceiro estratégico do Brasil. Somos parceiros do Brics. Também dependemos muito das exportações de fertilizantes da Rússia e da Bielorrússia. E, claro, a Rússia é um grande fornecedor de petróleo e gás”, disse França na terça-feira.

Embora se declare contrário à guerra, o Brasil tem adotado discurso relativamente neutro em relação ao conflito, sem tomar posição para um lado ou outro.

Ainda assim, o economista do Ineep vê alguns complicadores que precisarão ser contornados. “A principal questão é que a Rússia tem feito seus negócios em moeda local, o rublo, o que gera custos adicionais”, explica. “Além disso, o tempo para o diesel chegar aqui é maior, o custo logístico é mais elevado e, dependendo da região, há dificuldades em razão do inverno rigoroso”, diz.

Entre as vantagens, por outro lado, está a cotação do produto russo na comparação com o derivado norte-americano. Como a Europa está boicotando o óleo russo, houve um crescimento considerável no volume importado dos Estados Unidos, o que gera uma pressão sobre os preços do produto daquele país.

“Se pegar as exportações americanas de março a maio, houve um crescimento, a cada mês, a taxas de mais de 10%. Então, claramente tem um grupo de países demandando dos Estados Unidos, o que tem gerado uma queda de estoque de derivados norte-americano”, explica Leão.

“Isso começa a impactar preços, além de poder gerar dificuldade de atender a demanda que eles estão recebendo. Por outro lado, há uma tendência de aumento da oferta do óleo russo. Então é natural que haja uma reorganização do fluxo comercial.” Para se ter uma ideia, nos últimos três meses, o litro do diesel russo teve um piso de US$ 0,95, enquanto o do produto norte-americano foi de US$ 1,33, segundo os estudos do Ineep.

A possibilidade de desabastecimento de diesel no Brasil foi levantada pela Petrobras em maio, devido a paradas de manutenção previstas em suas refinarias no segundo semestre e à escassez do produto no mercado internacional, por causa da guerra da Ucrânia.

Na terça-feira (12), a ANP realizou audiência pública sobre duas propostas de resolução visando obrigar empresas do setor a aumentar os estoques do produto no segundo semestre. Em nota divulgada no dia seguinte, a agência afirmou que, “no momento, o abastecimento de óleo diesel A S-10 ocorre com regularidade no país” e que seu objetivo “é atuar de forma preventiva”.