Conforme os dados disponibilizados pelo BNDES, 89% dos desembolsos realizados foram liberados em favor de apenas seis países: Angola (US$ 3,2 bilhões), Argentina (US$ 2 bilhões), Venezuela (US$ 1,5 bilhão), República Dominicana (US$ 1,2 bilhão), Equador (US$ 700 milhões) e Cuba (US$ 650 milhões). 6b4x71
Desses, três deram calote: Venezuela (US$ 639 milhões), Moçambique (US$ 122 milhões) e Cuba (US$ 202 milhões), em um total de US$ 964 milhões (R$ 5,1 bilhões) acumulados até março de 2022, data da última atualização do banco.
Todo o valor não pago por Moçambique, correspondente a 122 prestações, foi indenizado pelo Fundo de Garantia à Exportação (FGE), instrumento que cobre eventuais operações não pagas mesmo após tentativas de acordo. O fundo é constituído de recursos provenientes de alienação, dividendos e remuneração de capital de ações; reversão de saldos não aplicados; resultados de aplicações financeiras; comissões decorrentes da prestação da garantia; além de dotação específica no Orçamento da União.
Para a execução de serviços no país de Nicolás Maduro, o BNDES desembolsou US$ 1,5 bilhão (R$ 7,9 bilhões) e ainda tem US$ 160 milhões (R$ 839 milhões) a receber. Nada menos que 598 parcelas do financiamento a obras na Venezuela acabaram cobertas por recursos do FGE, e há outras 41 prestações em atraso ainda não indenizadas.
Por lá, o dinheiro serviu para custear a construção de linhas e estações de metrô em Caracas e Los Teques, pela Odebrecht, além do estaleiro Astialba e da Siderúrgica Nacional, ambas pela Andrade Gutierrez. Os prazos para pagamento variam, conforme a obra, de 102 a 150 meses.
Em Cuba, foram aportados pelo banco de fomento US$ 656 milhões (R$ 3,4 bilhões), e o saldo devedor ainda é de US$ 420 milhões (R$ 2,2 bilhões). O investimento contempla a execução de cinco etapas da ampliação e modernização do Porto Mariel, pela Companhia de Obras e Infraestrutura, uma subsidiária da Odebrecht, por um prazo de 25 anos. As prestações em atraso são 13, mas outras 190 acabaram cobertas pela garantia do FGE.
Apesar dos calotes, o valor já pago ao BNDES referente às obras executadas em outros países supera o total desembolsado em termos nominais. Ao todo, ante os US$ 10,5 bilhões investidos, já foram recebidos US$ 12,65 bilhões (R$ 66,3 bilhões), considerando juros e incluídas as indenizações do FGE.
O banco ainda espera receber US$ 1,1 bilhão (R$ 5,8 bilhões). Além de Cuba e Venezuela, têm saldo devedor a vencer Argentina (US$ 45 milhões), Costa Rica (US$ 12 milhões), Equador (US$ 43 milhões), Gana (US$ 99 milhões), Guatemala (US$ 91 milhões), Honduras (US$ 35 milhões), Moçambique (US$ 49 milhões) e República Dominicana (US$ 144 milhões).
Angola, México e Uruguai, que contraíram dívida total de US$ 3,39 bilhões (R$ 17,8 bilhões) também por obras executadas por empresas brasileiras, já quitaram seus financiamentos.