Em todo o Brasil, mais de 176 milhões de pessoas foram ao cinema, deixando mais de R$ 2,7 bilhões nas bilheterias. Curitiba teve um papel de destaque nesse crescimento nacional. Entre 2018 e 2019, a capital paranaense saltou da sétima para a quinta colocação no ranking das cidades com mais público nos cinemas, ultraando Fortaleza (CE) e Salvador (BA). De 3,8 milhões, o público total ou para 4,2 milhões, estimulado por um reforço na rede exibidora. Foram dez novas salas inauguradas no ano ado, oito no Jockey Plaza Shopping e duas no Cine eio, que trouxe de volta à cidade o cinema de rua.
Reforço esse que se verifica em âmbito nacional. Os números oficiais da Ancine ainda não foram disponibilizados, mas sabe-se que o país atingiu um total de 3,5 mil salas de cinema, superando a marca de 3.352 atingida em 2018, que, por sua vez, já havia suplantado o recorde de 3.276 que pertencia ao distante ano de 1975.
Paulo Sérgio Almeida, diretor do site Filme B, especializado no mercado cinematográfico, tem uma explicação para o incremento de público nos cinemas brasileiros. “Foi uma safra recorde de filmes, um ano de ouro especialmente para a Disney, que obteve resultados espetaculares”, afirma. Além de Vingadores: Ultimato, que quebrou o recorde de maior bilheteria da história do cinema, a companhia foi responsável por outros seis dos dez campeões de público no Brasil, como O Rei Leão, Capitã Marvel e Toy Story 4.
Para o cinema brasileiro, também foi um ano positivo em termos de audiência. Foram 25,6 milhões de espectadores de filmes nacionais em 2019, 1,4 milhão a mais que em 2018. Além de Nada a Perder 2, produção que teve o sétimo maior público do ano, outros cinco filmes superaram a marca de 1 milhão de espectadores: Minha Vida em Marte (4,3 milhões), De Pernas pro Ar 3 (3,5 milhões), Minha Mãe é uma Peça 3 (2,4 milhões somente em 2019; este ano já ultraou os 10 milhões), Turma da Mônica: Laços (2,1 milhões) e Os Parças 2 (1,3 milhão).
Paulo Sérgio acredita que a receita para levar as pessoas ao cinema segue a mesma de muitos anos. “Cinema é conteúdo. A situação econômica e o preço do ingresso têm seu peso, mas o mais importante é o conteúdo. É como no futebol, se o time chega à final os torcedores vão de qualquer jeito”, compara. O valor do ingresso, por sinal, é a única coisa que vem se mantendo na ascendente nos últimos anos. De R$ 12,57 em 2014, o preço médio do ingresso calculado pela Ancine ficou em R$ 15,82 no ano ado.
Por mais que seja confortável e mais econômico assistir a um filme no conforto do lar, a experiência de ir ao cinema é insubstituível. Essa é a opinião de Marden Machado, um dos curadores do Cine eio, inaugurado em Curitiba em março do ano ado resgatando a tradição dos cinemas de rua. “Esses primeiros meses superaram nossas expectativas. Até por resgatar um público que nos relatou que não frequentava salas de cinema há bastante tempo, por estarem todas em shopping centers”, conta.
Com uma programação bastante diversificada, que dá espaço tanto a blockbusters como produções alternativas, além de mostras especiais, o Cine eio também atrai um público variado, segundo Marden, “desde adolescentes até pessoas de idade”. O ambiente do local, que conta com um café, também é apontado como um diferencial. “Muita gente se encontra lá antes da sessão ou, depois, aproveita para se reunir e conversar sobre o filme.”
Estrutura e conforto são fatores que fazem a diferença na hora de atrair o espectador, na avaliação da rede Cinemark, que istra a maior quantidade de salas no Brasil. “A Rede investe cada vez mais no conforto das salas e na constante procura por produtos de qualidade para nossos snack bars”, disse a empresa através de sua assessoria de imprensa. Promoções, conteúdos especiais e facilidades como venda de ingressos por aplicativa também são apontados como fatores que ajudam a atrair público.
Como se percebe, o streaming ainda não interferiu significativamente no hábito de ir ao cinema. Mas ele pode se tornar uma ameaça às salas de exibição? As opiniões divergem. Marden Machado acredita que não, lembrando que nas últimas décadas já houve questionamentos nesse sentido com a televisão, o videocassete, o DVD e a TV por . “Tem a comodidade de poder ar o filme no celular ou na Smart TV quando quiser, mas, por melhor que seja o equipamento, jamais será suficiente para reproduzir a experiência coletiva que o cinema proporciona”, diz.
Já para Paulo Sérgio, do Filme B, as redes exibidoras têm motivos para se preocupar. “O streaming é a maior ameaça que o cinema enfrentou em todos os tempos. No caso do VHS, do DVD e da TV por , também havia a comodidade, mas era oferecido o mesmo produto do cinema e que chegava depois. Agora, muitos produtos são simultâneos ao cinema ou inéditos. Além disso, o plano de negócio é diferenciado, com o modelo de que torna o player mais ível”, avalia.
Uma vantagem, na opinião de Paulo Sérgio, é que hoje as redes de cinema estão mais bem preparadas para enfrentar a concorrência, já que têm investido em tecnologia e conforto para os espectadores. “Os exibidores precisam ficar atentos ao preço do ingresso, que já foi melhor”, observa. Nos Estados Unidos, algumas redes de cinema já ofertam s, que possibilitam ao espectador ver quantos filmes quiser pagando um valor mensal único.
Por fim, existe uma corrente que acredita que os serviços de streaming, na verdade, ajudam a incrementar o movimento nos cinemas. É o caso da Cinemark, que vê as novas tecnologias como aliadas. “Para a Cinemark, o consumo de conteúdo dentro de casa ativa o radar do espectador para o conteúdo exibido no cinema. Muitos dos clientes que estão sempre conosco também consomem filmes nas diversas plataformas de streaming. Podemos fazer um paralelo com gastronomia: os clientes que se interessam e aprendem a cozinhar cada vez melhor são os mesmos que adoram bons restaurantes”, sustenta a empresa.
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