“A inflação veio dentro do esperado, mas ainda não é uma batalha vencida”, diz o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung. Há outros fatores que vem contagiando o mercado e podem afetar o plano de voo do Banco Central no combate à inflação: p2022

Sung alerta que caso haja uma deterioração no cenário, principalmente em relação às expectativas de inflação, o BC poderá manter o juro em 13,75% ao ano por mais tempo, ou até mesmo, em um caso mais extremo, voltar a subir a taxa Selic.

Na avaliação do mercado, o espaço para cortes de juro neste ano vem diminuindo. Se em 4 de agosto, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) estabeleceu a taxa em 13,75% ao ano, a sinalização era de uma Selic de 11% no final de 2023, hoje as expectativas de bancos, corretoras e consultorias sinalizam para uma taxa de 12,75% em dezembro.

Pressões políticas vêm ganhando força 4i586d

Lula vem criticando fortemente a política monetária do Banco Central, bem como a autonomia formal conferida à instituição em 2021. O atual presidente, Roberto Campos Neto, tem mandato até o fim de 2023.

Lula afirma que não é possível que o país volte a crescer com a taxa de juros no patamar de 13,75%. O ponto médio (mediana) das estimativas de economistas para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano é de alta de apenas 0,8%, segundo o boletim Focus. Se confirmada, essa taxa de crescimento será a menor desde 2016, sem contar a recessão de 2020, primeiro ano da pandemia.

As reiteradas críticas de Lula à condução à atuação do Banco Central produzem efeitos, por exemplo, sobre os juros futuros, que pesam na formação do custo do crédito de longo prazo. Um exemplo foi na sexta-feira (3), após uma entrevista de Lula à RedeTV, quando os juros do Deposito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2025 aram de 12,97% para 13,28%.

Nesta quinta (9), o mesmo DI baixou para 12,83%, após declarações o ministro da Secretaria das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Ele disse não existe qualquer discussão no governo para modificar a legislação que garante a independência do Banco Central na condução da política monetária.

O presidente do BC saiu em defesa da instituição. Segundo ele, a principal razão para a autonomia do BC é “desconectar o ciclo da política monetária do ciclo político, porque eles têm diferentes lentes e diferentes interesses”. “Quanto mais independente você é, mais efetivo você é e menos o país vai pagar em termos de custo-benefício da política monetária", afirmou.

Segundo reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo", a cúpula do PT quer "enquadrar" Campos Neto e defende a sua substituição, sob a justificativa que a atual gestão do BC pode levar o governo a uma “crise política incontornável”.

Dirigentes do partido, como a presidente Gleisi Hoffmann, endossam o discurso de Lula sobre a necessidade da redução da taxa e pregam a reorientação da política econômica. “O fato de o presidente do BC ter mandato não dá a ele autorização para irresponsabilidade”, disse a deputada ao jornal.

O embate pode ganhar força nos próximos dias. Hoffmann levará essa proposta mais crítica em relação ao Banco Central à reunião do Diretório Nacional do PT, que acontece na segunda-feira (13).

Segundo a Bloomberg, a equipe econômica do governo estaria considerando uma revisão antecipada das metas de inflação, para aliviar as tensões entre o BC e o presidente Lula. A definição teria de ar por uma reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que é integrado pelos ministros da Fazenda, Planejamento e pelo Banco Central. A próxima reunião está marcada para o dia 16.