“Esse cenário otimista do agro deverá refletir positivamente no desempenho da indústria alimentícia, que possui maior relevância nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”, apontam os analistas do BB. ik5l
O Banco Central aponta em seu boletim regional que a estimativa de mais uma safra de grãos recorde deve manter o dinamismo da economia da região e amortecer os impactos da desaceleração de outros setores, projetando um desempenho acima da média nacional.
Um dos destaques no Centro-Oeste tende a ser a recuperação do Mato Grosso do Sul, cujo PIB agropecuário encolheu 0,4% no ano ado, motivado por questões climáticas. Neste ano, a expectativa é de que ele cresça 14,7%, segundo o BB. A safra de grãos do estado deve aumentar 17,8%, para 25,9 milhões de toneladas, apontam estimativas da Conab.
No Mato Grosso, a expectativa é de que a atividade industrial – que teve forte crescimento de 21,7% no ano ado, de acordo com o BB – fique estável em 2023. Mesmo assim, o estado deve ser um dos que mais deve crescer neste ano, com PIB avançando 3,2%, segundo o banco. O dinamismo vem de outros setores, como o de serviços, que reflete o bom desempenho do agronegócio.
O Sul, que veio de um crescimento abaixo da média nacional em 2022, deve ter uma expansão na atividade econômica maior que a nacional em 2023, segundo avaliação do BB.
A projeção do BB é de um incremento de 1,7% no Sul, puxado pela recuperação do agronegócio, tanto no Paraná (alta esperada de 16,2%) como no Rio Grande do Sul (44,4%).
A expectativa da Conab é de que os gaúchos colham 33,2 milhões de toneladas, 24,7% a mais do que na safra ada. As perspectivas para o Paraná são de uma safra de 45,7 milhões de toneladas, 35,4% acima do ciclo anterior.
“A agricultura tende a ser um fator dinamizador, tendo em vista que a região deve ser beneficiada pelo aumento na safra agrícola, com desdobramentos sobre as demais atividades”, diz relatório do Banco Central.
Mas as expectativas mais otimistas para o Rio Grande do Sul estão sob ameaça. A Conab aponta que a distribuição das chuvas no estado foi irregular e os volumes, inferiores a 150 mm em fevereiro. Além disso, altas temperaturas mantiveram baixos os níveis de água do solo, com culturas como soja e milho sofrendo restrição hídrica.
"A estiagem no Rio Grande do Sul vem causando prejuízos aos agricultores", diz Eduardo Três, gerente sênior de relacionamento da hEDGEpoint Global Markets.
Durante o verão, período crucial para o desenvolvimento da soja, o La Niña prejudicou as plantações. O clima quente e a ausência de chuvas fez com que os grãos semeados por volta de outubro e novembro de 2022 tivessem dificuldades para crescer e amadurecer até a época da colheita, que se estende de janeiro a abril. "Mesmo com chuvas no radar e já se manifestando em algumas regiões, ainda é difícil visualizar um bom cenário", diz Três.
A hEDGEpoint revisou para baixo as expectativas da safra gaúcha de soja de 22 milhões para 15 milhões de toneladas. E derrubou a estimativa da colheita de milho, de algo entre 5 e 6 milhões de toneladas, para somente 3 milhões. Segundo a Conab, na semana encerrada no dia 11, 59% da área plantada com milho já tinha sido colhida no RS. Da soja, nada tinha sido colhido.
Enquanto isso, os setores industrial e de serviços do Sul devem ser prejudicados pelo patamar elevado da taxa de juros. Segundo o BC, também se espera desaceleração no processo de retomada do mercado de trabalho da região, após um período de redução expressiva na taxa de desemprego e recomposição parcial dos rendimentos.
Outra região que deve crescer acima da economia nacional é o Nordeste, cujo PIB deve avançar 1,6%, segundo o BB.
Uma série de fatores contribuem para esse cenário mais positivo, de acordo com o banco. Os benefícios sociais devem impulsionar o setor de serviços. O setor agrícola deve crescer com mais vigor no Rio Grande do Norte (24%), Piauí (7,8%) e Maranhão (5,0%). Além disso, a recuperação da indústria em Pernambuco e no Ceará devem puxar o PIB industrial.
“A manutenção do Bolsa Família em R$ 600 e o pagamento de um valor adicional de R$ 150 por criança com idade até seis anos a famílias em situação de vulnerabilidade social tendem a fomentar a economia no Nordeste, onde a participação desses benefícios em relação à massa total de salários é maior”, cita o BB em relatório.
A economia do Norte do país deve crescer 1,5% neste ano, segundo o Banco do Brasil. Os principais motores do crescimento na região serão a forte expansão da produção agrícola no Tocantins, que deve levar a um crescimento de 14% no PIB rural no estado; a recuperação da indústria extrativa no Pará; e o avanço da tecnologia 5G, que favorece a indústria de eletroeletrônicos no Amazonas, limitando os efeitos da alta nos juros.
O setor de serviços também se beneficia da manutenção dos benefícios sociais que foram ampliados no segundo semestre de 2022.
O Banco Central, em seu boletim regional, destaca que a gradual recuperação da exportação de commodities minerais, aliada ao desempenho positivo da indústria de transformação, também podem contribuir para a continuidade do crescimento na região em 2023.
A região que concentra 51,9% do PIB nacional é também a que deve ter o menor crescimento econômico neste ano. O BB prevê alta de apenas 0,7% para o Sudeste.
Segundo relatório do Banco Central, houve perda de ritmo em todos os setores do Sudeste no segundo semestre de 2022, indicando arrefecimento também no início de 2023.
Para São Paulo, a maior economia estadual, as projeções sinalizam para uma alta de 0,5% no PIB.
Em Minas Gerais, a esperada recuperação da pecuária leiteira e um crescimento na produção de café devem levar a uma expansão de 5,2% no PIB rural. No total, o PIB mineiro deve subir 1%, estima o BB.
No Rio de Janeiro, o PIB deve subir 1,2%, com a indústria se beneficiando do cenário mais favorável para o petróleo. Os impactos já foram sentidos no ano ado, com avanços na extrativa e na de transformação, nos segmentos de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis.
O impulsionador da economia capixaba deve ser o setor de serviços, devido ao menor grau de comprometimento de renda das famílias do estado. Com a indústria e a agropecuária locais recuando, porém, o PIB do Espírito Santo tende a avançar somente 0,6%, estima o BB.