Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos cinco primeiros meses do ano a indústria acumula um crescimento de 13,1% no comparativo com o mesmo período de 2020, quando começaram a ser sentidos mais fortemente os impactos da pandemia. “A demanda nacional e internacional segue aquecida”, destaca Lisandra. 1l96d
Nos acumulado de 12 meses até maio, o setor acumula um crescimento de 4,9% em relação a igual período anterior. O destaque são segmentos ligados à construção civil, itens de uso doméstico e às máquinas e equipamentos.
A fabricação de cimento teve uma expansão de 20,2%; a de tubos e órios de material plástico para uso na construção, 24,5%; e a de tintas, vernizes, esmaltes e lacas, 18,1%. Do lado dos itens de uso doméstico, houve um crescimento de 29,9% na fabricação de eletrodomésticos. A produção de máquinas e equipamentos de uso geral, por sua vez, apresentou um incremento de 17,0%, ao o que a de tratores, máquinas e equipamentos para a agropecuária subiu 34,7%.
As vendas de equipamentos para o campo foram favorecidas pelo crescimento do agronegócio, que teve uma expansão de 5,35% no primeiro trimestre em comparação ao mesmo período de 2020, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP) e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).
A desvalorização do real frente ao dólar, que ganhou força ao longo do ano ado e no primeiro trimestre, pressionou a inflação, mas pode ter dado uma “ajudinha” ao segmento de máquinas e equipamentos e ao de insumos industriais.
“O aumento nos custos para trazer esses itens de fora favoreceu uma substituição de importações”, explica a diretora e macroeconomia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro.
Fernando Ribeiro Leite, professor do Insper, destaca um dos reflexos positivos dessa conjuntura: a recuperação da taxa de investimento da economia. No ano ado, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede os gastos com máquinas, equipamentos e construção, correspondeu a 16,43% do PIB. Foi o maior índice em cinco ano, e o terceiro crescimento seguido.
“As companhias estão aproveitando esta oportunidade. Imóveis também estão mais em conta e as empresas mais baratas, o que favorece fusões e aquisições”, diz Leite.
Apesar da recuperação robusta esperada para a economia neste ano, ainda há segmentos em baixa.
A produção de artigos do vestuário e órios, por exemplo, caiu 1,4%. “Esta situação está relacionada às restrições de mobilidade e ao incremento no home office, que demandou menos esses itens”, explica Alessandra Ribeiro, da Tendências. Eles foram afetados também pela retração no emprego e na renda dos trabalhadores.
Outro segmento que ainda recua é o automotivo. A fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias caiu 2,5% nos 12 meses encerrados em maio, comparativamente a igual período anterior, aponta o IBGE. “A perda da confiança do consumidor, por causa da pandemia, também impactou negativamente este setor”, afirma Leite.
Um dos fatores que impedem uma aceleração na produção é o desarranjo na cadeia de suprimentos de microchips, que pode causar perdas de US$ 100 bilhões a essa indústria no mundo todo, de acordo com a KPMG.
Os serviços apresentam uma retração de 5,4% nos 12 meses encerrados em abril, puxados pelos serviços prestados às famílias, que tiveram um encolhimento de 34,3%, por causa da menor mobilidade das pessoas e das restrições estabelecidas pelas autoridades sanitárias. “Muitas famílias substituíram o consumo de serviços pelo de bens”, complementa Lisandra, do Original.
As perspectivas para os próximos meses e para 2022 são de um crescimento menor – o ponto médio das projeções do Relatório Focus, do BC, sinaliza para 2,1% – e mais homogêneo entre as diferentes atividades econômicas.
Segundo Alessandra Ribeiro, da Tendências, com o avanço na vacinação vai haver uma reação no setor de serviços. Este também deve ser beneficiado por uma acomodação na demanda por bens. “Este setor [serviços] vem de dois anos difíceis e já vem esboçando uma reação”, complementa Lisandra Barbero, do Original.
A crise hídrica também deve funcionar como um limitador ao crescimento nos próximos meses, por causa do aumento nos gastos com energia, motivado pelo acionamento das termelétricas. A diretora da Tendências destaca que a produção tende a ficar mais cara.
Outros gargalos que também devem pressionar o crescimento, segundo Lisandra, são a lenta recuperação do mercado de trabalho – apesar da criação de 1,2 milhão de postos de trabalho formais nos cinco primeiros meses do ano, o desemprego ainda é de 14,7% – e as incertezas e fragilidades na cadeia global de suprimentos.
“Neste cenário, o comércio e a indústria devem sentir a retirada dos estímulos monetários e fiscais. O auxílio emergencial não deve se sustentar”, diz a economista do Original.
Leite, do Insper, também lembra que, no próximo ano, haverá eleições. “Em um cenário bastante polarizado, a política é um elemento forte no ambiente econômico. Isto contribui para travar investimentos e contribuir para que os investimentos percam ritmo.”
Esta é a primeira reportagem da série "O Brasil que cresce", que apresenta alguns dos setores que mais avançam no país. Acompanhe a série neste link.