Na lista de convênios cancelados, estava, por exemplo, o patrocínio ao VII Fórum Jurídico de Lisboa, no valor de R$ 1.236.850. O evento, realizado em abril de 2019 em Portugal, teve entre seus organizadores a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o IDP (então Instituto Brasiliense de Direito Público, hoje Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), que tem entre os sócios-fundadores o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.
A parceria entre as instituições previa um total de R$ 3.369.225 desembolsados por Itaipu e incluía patrocínio a outros eventos, com o II Seminário Direito e Economia em Nova York e o Seminário sobre Visões Comparadas: Brasil e França, em Paris. Entre 2015 e 2018 outros 11 eventos de Direito da FGV e do IDP haviam sido patrocinados por Itaipu, um investimento de R$ 2,41 milhões em valores nominais.
Além da FGV e do IDP, entidades como a Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e o Instituto Justiça e Cidadania (IJC) também tiveram convênios com Itaipu cancelados logo nos primeiros meses da gestão de Silva e Luna.
A mesma alta do dólar que pesou nos reajustes de preços de combustíveis feitos pela Petrobras – que pratica a paridade internacional – ajudou a construir um cenário favorável para Silva e Luna em Itaipu. Por ser binacional, fruto de tratado assinado com o Paraguai, a usina tem orçamento em dólar, o que rendeu caixa com a valorização de cerca de 45% da moeda norte-americana nesses dois anos.
No fim de 2019, em uma negociação da geradora com sindicatos de trabalhadores, Silva e Luna concedeu a todos os funcionários um bônus equivalente a 2,8 salários como compensação por possíveis perdas decorrentes de acordo coletivo. O próprio general, que, como diretor, tinha salário de R$ 79 mil à época, foi beneficiado com um pagamento extra de R$ 221,2 mil.
O redirecionamento de recursos permitiu um programa de investimentos em obras de infraestrutura para a região que já soma R$ 2,5 bilhões. A menina dos olhos é a construção da Ponte da Integração, segunda ligação entre Foz do Iguaçu e o Paraguai, que deve ser concluída em 2022. O projeto, uma demanda de décadas da região, receberá um total de R$ 324 milhões da empresa.
A lista de investimentos inclui ainda obras de ampliação da pista do Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu (R$ 55 milhões), duplicação de estradas da região, como a Rodovia das Cataratas (R$ 136 milhões), e até reforma de hospital e construção de um mercado municipal na cidade onde a hidrelétrica está instalada.
A nova política da empresa agradou o governo do Paraná. Após o anúncio da indicação de Silva e Luna para o comando da Petrobras, o governador do estado, Carlos Massa Ratinho Júnior (PSD), elogiou a gestão do general. “Não tenho dúvidas que ele [Silva e Luna] vai transformar a empresa e revolucionar a gestão da Petrobras”, escreveu em uma rede social. “Sua gestão foi marcada com recordes de investimentos, geração de energia, obras de infraestrutura e gestão eficiente e moderna.”
Na próxima quinta-feira (25) está prevista a quinta visita oficial do presidente Jair Bolsonaro ao município para lançamento do projeto de revitalização da linha de Furnas, que leva energia de Itaipu para as regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. O projeto receberá cerca de R$ 1 bilhão em recursos da usina ao longo de 60 meses.
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Ainda no primeiro ano de sua gestão, o diretor de Itaipu integrou as negociações sobre um acordo entre a brasileira Eletrobras e a paraguaia Ande (istração Nacional de Eletricidade), que gerou uma crise diplomática e quase levou ao impeachment do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez.
Em uma primeira versão do acordo, assinada em maio de 2019, o Paraguai aumentava a previsão de compra da chamada energia garantida, que é mais cara, reduzindo o consumo da energia excedente, mais barata. A oposição do país criticou duramente a negociação, levando o então presidente da Ande, Pedro Ferreira, e o ministro das Relações Exteriores paraguaio, Luis Castiglioni, a renunciarem. Em meio à ameaça de um processo de impeachment de Abdo Benítez, o acordo acabou anulado em agosto.
Em meio ao ime, Silva e Luna foi convocado pelo próprio Bolsonaro para resolver a questão. A solução para o imbróglio veio em dezembro, com uma previsão de aumento gradual de compra de energia garantida pelo Paraguai, para até 42,5% em 2022. “Depois de me entender com o lado paraguaio, tive que convencer os brasileiros também, o que foi ainda mais difícil”, disse o general à época.
Entidade binacional, a usina de Itaipu foi criada e é regida, em igualdade de direitos e obrigações, por um tratado assinado, em 1973, por Brasil e Paraguai. Com 2,76 bilhões de megawatts-hora acumulados desde 1984, a hidrelétrica é considerada liderança mundial em produção de energia.
Ex-ministro da Defesa no governo de Michel Temer (MDB), Silva e Luna foi o primeiro diretor-geral de Itaipu com formação militar desde 1990, quando terminou a gestão do também general e ex-governador do Paraná Ney Braga, ocupante do cargo a partir de 1985. Para seu lugar, Bolsonaro indicou outro general de Exército da reserva: João Francisco Ferreira.