Disputas geopolíticas à parte, o consultor em negócios asiáticos Sergio Quadros, da SQ Asia Business Consulting, observa que a transação direta em reais e yuans “queima” a etapa de conversão ao dólar, e, ao fazer isso, implica em redução de custos na taxa de câmbio e despesas financeiras. Quadros morou dez anos na China e foi responsável pela instalação e abertura da primeira agência do Banco do Brasil no país asiático.
“Isso com certeza vai ter um impacto positivo no aumento do comércio entre o Brasil e a China. Porque as empresas vão diminuir a necessidade de ter o obrigatório a linhas de crédito em dólar, podendo usar somente sua moeda local. Você não está substituindo o dólar pelo yuan. O dólar vai continuar sendo moeda forte e hegemônica por muito tempo. Podemos aumentar o comércio com a China usando uma facilidade da moeda chinesa, assim como usamos o euro nas exportações para a Europa e o iene nas transações com o Japão. Não significa que 100% das exportações para a China serão em yuan”, sublinha.
Outros analistas não têm tanta certeza dos benefícios de transacionar com os chineses na moeda deles. "O câmbio é manipulado há décadas, desde sempre, pelo governo chinês", apontou Carlo Cauti, professor de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), quando do lançamento do acordo, em abril.
Do ponto de vista geopolítico, a consolidação de um canal de comércio em yuan e real pode ser uma espécie de “vacina” contra eventuais sanções nas disputas internacionais. “Imagine se surge um atrito entre os países em que as transações da China sofram sanções, como ficaria o comércio do Brasil?”, indaga Quadros. Tal cenário de sanções não é sem sentido, diante das tensões diplomáticas e militares entre China e Estados Unidos quanto ao direito de autogoverno de Taiwan, separado do país asiático desde a II Guerra Mundial.
A Eldorado Brasil tem como seu principal acionista a J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, que controla também a maior empresa de carnes do mundo, a JBS. A reportagem fez contato com a assessoria da JBS para saber se a companhia também seguirá os os de sua coirmã no grupo, mas ainda não teve retorno.
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