Mas agora ele afirma que vai fazer piada com deficientes físicos, e solta umas boas histórias envolvendo um ex-parlamentar republicano cadeirante. Em pouco tempo, ele já está em outro tema, usando até mesmo os olhinhos puxados de sua esposa asiática para arrancar risadas da plateia. Vale dizer que Chappelle escolheu Washington DC para gravar esse especial. Foi na capital americana que ele cresceu e deu os primeiros os como humorista, o que traz um sabor nostálgico e um sentimento de vitória para toda a situação.

São dois os principais causos da noite e um se a num show que tinha potencial para tirar o jovem Chappelle da miséria, mas cuja captação de áudio foi prejudicada pelo som alto de uma boate controlada pela máfia russa. O outro causo é o do ataque sofrido por ele num palco de Los Angeles, em 2022, pouco após Will Smith estapear Chris Rock na cerimônia do Oscar. Chappelle usa essas situações para investigar o que se a na alma do homem negro, além de dar e, ao mesmo tempo, tirar a razão de todos. Mas, no fundo, ele só queria que seu segurança Travis não usasse sapato social e chegasse mais rápido na cena do ataque para dar uma sova bem dada no agressor que invadiu o palco.

Todos esses papos e delírios saem de sua boca com leveza e são recebidos pela audiência presente com gargalhadas enlouquecidas. Por isso mesmo é estranho pegar um jornal como a Folha de São Paulo e encontrar quatro artigos detonando Sonhador, um deles chamando Chappelle e, por tabela, seu público de sociopata e criminoso. Saiu também um artigo supostamente positivo “para balancear”, mas trata-se de uma pensata sociológica que não chega a lugar algum. Nessas horas, fica bem nítido que uma parte da humanidade já se esqueceu qual é a função de um especial de humor e o que se deve fazer durante aquela hora: rir. Dave Chappelle segue entregando a parte dele e espera-se que o cidadão do lado de cá não pare de prestigiar e se divertir com um cabra tão engraçado. Criminoso é problematizar piada.

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