Glazer acerta em sua escolha radical de deixar de fora do quadro todo o inferno dantesco nas cercanias da casa dos Höss, algo mostrado com detalhes em muitos filmes e que aqui só permanece como uma presença assustadora por meio de aparições fugazes das chaminés do crematório, tiros, gritos e berros dispersos, ou prosaicas manchas de sangue nas botas do comandante, que são meticulosamente removidas pelos criados. Tudo isso acontece enquanto Rudolf toma conta de seus subordinados ou recebe seus patrões, e enquanto sua família cuida do jardim, toma banho na piscina e até caminha pelas redondezas. E há pouco mais do que isso... Até a chegada de um final poderoso e enigmático.
Logicamente, após o primeiro impacto – sem anestesia ou aviso –, torna-se difícil acompanhar este cotidiano tedioso e insensível, embora os já referidos sons angustiantes ouvidos de fundo e a música perturbadora de Mica Levi impeçam o espectador de esquecer o horror que se a naquela guerra. Nesse sentido, Zona de Interesse gera o mesmo desconforto que A Queda! As Últimas Horas de Hitler, de Oliver Hirschbiegel, causou em 2004, ao mostrar Adolf como um ser humano e não como um monstro.
Outra comparação possível seria com Hannah Arendt – Ideias que Chocaram o Mundo (2012), de Margarethe von Trotta, que recria o calvário sofrido pela famosa filósofa judia após publicar a sua polémica crônica Eichmann em Jerusalém, cujo subtítulo – Um Estudo sobre a Banalidade do Mal – também define perfeitamente Zona de Interesse. É muito perturbador pensar que qualquer pessoa, motivada por uma ideologia ou a mais pura mesquinharia, possa acabar cometendo crimes atrozes sem vacilar, chegando até a se entusiasmar com uma ascensão profissional, ao mesmo tempo em que dá um beijo carinhoso na esposa e lê uma história para os filhos.
© 2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
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