“O que nós vamos ver acontecer agora é mais uma vez a Conab gastar milhões comprando produto de grupos de pequenos produtores, em assentamentos de reforma agrária, ou daqueles chamados de familiares e campesinos, e distribuindo esses produtos para entidades variadas. Ok, mas a questão é a transparência desse processo. Teremos de ficar atentos para ver como isso vai se formar de novo, porque já foi terrível, e quem desmontou isso foi o Michel Temer. Uma rede de apoio que custava aproximadamente R$ 1 bilhão, que era distribuída para esses grupos, e alimentava essa máquina toda de grupos de invasores de terra pelo Brasil afora. Isso foi desmontado, era um desperdício de dinheiro”, destaca Graziano 6x163s
Para o engenheiro agrônomo, falar em formação de estoques públicos hoje, a não ser em situação de guerra no país, não faz sentido: “Não é nem uma volta ao ado, é um devaneio. Mais do que isso, é um disfarce. A Conab vai ser importante para alimentar a máquina dos grupos anticapitalistas do campo, esse é o problema. Aqueles que ficam metendo o pau no agronegócio, que ficam xingando tudo. Vai dar um trabalho enorme isso. E o Lula vai fazer o que ele sempre fez. Ele veste o bonezinho do MST e depois vai lá agradar ao Blairo Maggi, que é um grande produtor, e faz isso tudo funcionar”.
O ex-deputado não discorda que a causa, aparentemente, é boa: favorecer os grupos de pequenos agricultores. O problema estaria na transparência do processo – como serão as licitações, quem terá o a esses recursos milionários. “Vai haver um privilegiamento total, vai ser uma dominância política total sobre as compras públicas que a Conab vai fazer. Já foi assim, os grupos chamados agroecológicos, isso virou uma rede pelo país todo. Tudo bancado pelo nosso dinheiro, milhões e milhões em convênios, em editais, etc. Isso ajuda a melhorar a distribuição de renda, ajuda esses grupos pobres de agricultores a se sair melhor na vida? Sim, é uma possibilidade, um caminho. Eu não me oponho que ações desse tipo sejam feitas. A questão é saber qual vai ser o controle disso, estando tudo lá num ministério controlado pelos anticapitalistas. Vai dar confusão lá na frente”, prevê.
Nem mesmo a justificativa de usar os estoques públicos para “baratear’ o preço dos alimentos se mantém em pé, numa análise mais detida. Para Vlamir Brandalizze consultor do mercado de commodities agrícolas, o discurso parece mais o de alguém “jogando para a torcida”. Ele alerta que o que funciona hoje no país é a lei da oferta e da procura.
“O feijão carioca escasseou muito, hoje está acima de R$ 400 a saca. Mas assim que vier a segunda safra, quando o pessoal colher a soja, vão ver que o feijão está com cotação boa e imediatamente o produtor vai plantar feijão e não vai plantar milho safrinha. E isso vai abastecer o mercado. É o mercado que se corrige rapidamente, sem a interferência do governo. Agora, se você tem estoque do produto, o cara não vai querer plantar porque sabe que o governo, na hora que o mercado melhora, ele entra e vende”, sublinha.
O fato de a agricultura ter se transformado no grande negócio do Brasil também compromete a efetividade dos estoques reguladores. Brandalizze, que também é plantador de feijão, observa que anos atrás recebia de R$ 6 a R$ 8 a saca. Hoje o preço está entre R$ 300 e R$ 400. “Veja quanto de dinheiro que uma Conab precisa para bancar qualquer volume de estoque. Os tempos mudaram”, afirma.
Para refutar o argumento de que o problema está no preço dos alimentos no país, Brandalizze cita o exemplo de outra commodity: “O arroz brasileiro é um dos mais baratos do mundo. O pacote de 5 quilos custa hoje entre R$ 13 e R$ 17 no supermercado. O arroz na Ásia, que normalmente é o mais barato do mundo, hoje custa de R$ 4 a R$ 7 o quilo, a granel, de qualidade inferior ao brasileiro. Nós estamos exportando mais de 2,2 milhões de toneladas de arroz neste ano, porque o arroz brasileiro está muito barato”.
Outra cadeia produtiva que ilustra a importância da não intervenção governamental indevida é o milho. Quando a produção brasileira estava voltada apenas para o mercado interno, nos momentos de crise o grão disparava e “matava o suinocultor”. “Hoje nós somos o segundo maior exportador de milho e talvez agora, em 2023, devemos até bater os EUA. Por que se tornou um grande negócio, daí você investe em tecnologia e produtividade. Quando é amarrado ao governo, fica muito travado, o pessoal acaba temendo, inclusive”, diz o analista.
O desafio, assim, não seria de baixar o preço dos alimentos no país, mas de dar renda aos brasileiros. “Eu mais acredito mais em emprego do que em outras coisas. Por que você dando emprego e a pessoa tendo renda, ele consegue comprar com R$ 20 um pacote de arroz de 5 kg, consegue comprar 1 kg de feijão com R$ 7 a R$ 10, um frango com R$ 6 a R$ 8, suíno com R$ 10 a R$ 12, ovo com R$ 5 a R$ 6 a dúzia. É tudo possível, desde que tenha dinheiro e emprego”.