“Na época, nós demos incentivos para 15 agricultores. Cada um plantava 50 hectares para conhecer a cultura. E a gente dava semente, adubo e defensivo, e acompanhava, para o cara aprender”, conta Serginho. Otimista, Olacyr de Moraes montou uma algodoeira para processar a produção de 100 mil hectares. “Muitos daqueles vizinhos estão até hoje no algodão. O meu patrão atual (grupo Scheffer), que planta 70 mil hectares de algodão, foi o primeiro produtor a plantar no município de Sapezal. Seu Moraes foi, de fato, um mecenas para o algodão do Mato Grosso”, relata Serginho.

O modelo vislumbrado por Olacyr de Moraes, em que o fazendeiro também é dono da algodoeira, até hoje é o que predomina no Mato Grosso e garante altos níveis de qualidade à pluma brasileira. Nesse sistema, o produtor supervisiona todo o processo de obtenção da pluma, incluindo as análises de laboratório, para garantir um produto conforme a demanda da indústria têxtil.

Variedade CNPA ITA 90 quebrou as barreiras

Durante seis anos, Olacyr de Moraes bancou sozinho o convênio para pesquisas da Embrapa em terras matogrossenses. Em 96, a variedade CNPA ITA 90 já era um sucesso e o convênio foi transferido para a Fundação Mato Grosso, ando a ser apoiado também por outros produtores. A variedade ITA 90 desenvolveu uma planta adaptada às condições de solo, clima e altitude do Centro-Oeste. Chegou-se a uma cultivar própria para a colheita mecânica, cujo capulho (fruto maduro) não se desprendia facilmente com a chuva. As variedades anteriores, ao contrário, geravam grandes perdas quando chovia perto da colheita, porque privilegiavam o fácil desprendimento do fruto para a colheita manual.

Na safra 99/2000, o Mato Grosso se tornou o maior produtor de algodão do país. “Na época, eu falei que pelo menos por mais 15 anos o Mato Grosso ia continuar na liderança. Eu errei, porque já está há mais de 20 anos como maior produtor. Entramos na escala do sucesso. Por que deu certo? Porque foi montada uma estrutura de pesquisa que não existia. Não existia em canto nenhum do mundo aquele modelo do Cerrado, com aquela quantidade de chuva, aquela altitude, aquele tipo de solo. Ali pelo ano de 1999 nós alcançamos as 400 arrobas por hectare, que era a meta inicial do senhor Olacyr”, conta Eleusio Freire.

Mantra de Olacyr era "desenvolver o Brasil de qualquer jeito"

Quem decide cultivar algodão atualmente, já conta com o respaldo da tecnologia e pesquisa próprias para as regiões de Mato Grosso, Bahia, Goiás, Minas, Piauí, Maranhão e Tocantins. “Ninguém entra no algodão para experimentar. Só entra com os pés no chão, com tecnologia padronizada, testada, e assim por diante. Isso é que explica sermos hoje o 4º maior produtor mundial”, destaca o pesquisador. E, acrescente-se, o 2º maior exportador da pluma.

Em entrevista a Jô Soares em 2013, dois anos antes de morrer, Olacyr de Moraes lamentou ter sido “abandonado” pelo governo na construção da Ferronorte, uma ferrovia para ligar Santa Fé do Sul (SP) a Rondonópolis (MT), que acabou tocando praticamente sozinho e resultou no endividamento e queda do seu império. Mas justificou por que não hesitava em pôr dinheiro em projetos como da ferrovia e do algodão. “Eu ganhei muito dinheiro, mas sempre fiz questão de investir tudo no Brasil. Temos que desenvolver esse país de qualquer jeito”.

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