A agricultura vertical não tem limites geográficos e pode mudar a realidade de regiões áridas do País, até agora eram vistas como pouco favoráveis ao cultivo de alimentos. No uso da água, a economia chega a 98%, segundo Ítalo Guedes, da Embrapa. Com fertilizantes, dá para triplicar o aproveitamento, entregando à planta apenas a quantia suficiente, e necessária, para o máximo potencial produtivo.
Além de países europeus, da China e dos EUA, as fazendas verticais têm se multiplicado em regiões de clima quente, como Israel, Emirados Árabes e a Arábia Saudita. Em Dubai, no mês de maio, foi inaugurada a maior fazenda urbana vertical do planeta, a ECO1, instalada numa área de 30 mil m2 e com capacidade de produzir 900 toneladas de vegetais por ano. Na Dinamarca, a startup Nordic Harvest está construindo a maior fábrica de hortifrútis do continente, em área de 7.000 m2 e capacidade prevista de mil toneladas por ano.
“As possibilidades são enormes, não apenas para os hortifrútis. A agricultura vertical pode ser utilizada para produzir plantas ornamentais, medicinais, flores, mudas e sementes. Estamos ainda na infância dessa tecnologia”, aponta Guedes.
Seria a agricultura vertical um xeque-mate no sistema atual de produção de alimentos, que demanda o uso de grandes áreas de terra? Agronomicamente, isso não é possível, segundo o pesquisador da Embrapa, porque grandes culturas têm relativa baixa produtividade por hectare, quando comparadas com as de estufa. Também sempre é mais difícil produzir "hortaliça-fruto" em ambiente controlado. “Enquanto um hectare de tomate produz 100 a 150 toneladas, um hectare de feijão produz 3 toneladas. Numa área pequena, você consegue produzir grande quantidade de alface, mas não de trigo, de arroz e feijão”, explica.
As hortaliças, por outro lado, matam a fome de vitaminas e sais minerais, mas não de energia. Não quer dizer que a tecnologia não dê um impulso e tanto à segurança alimentar do País. No Nordeste, pode ser uma alternativa para o pequeno produtor aumentar a renda e, assim, adquirir o alimento mais calórico. O que parece certo é que as longas viagens de hortigranjeiros pelo País podem estar com os dias contados. Caso do tomate que abastece Manaus, por exemplo, que hoje vem de Goiás, Minas Gerais e Ceará, ou do pimentão, que os manauaras “importam” quase todo do Centro-Oeste.
“A coisa está mudando rapidamente. As fazendas verticais brasileiras falam em expansão, inclusive para outros países. Já temos um ecossistema de empresas fornecedoras de insumos e equipamentos para este tipo de produção surgindo no Brasil, e universidades com linhas de pesquisa estabelecidas”, relata Guedes.
Atualmente, as fazendas verticais urbanas brasileiras ainda podem ser contadas nos dedos das mãos. Segundo a Embrapa, são pelo menos cinco em São Paulo, duas em Minas Gerais e duas no Rio de Janeiro. O quadro deve mudar em pouco tempo. A 100% Livre está captando recursos no mercado, R$ 50 milhões, para daqui um ano chegar dez estados brasileiros. A Pink Farms tem processo aberto para um segundo aporte de capital, de R$ 15 milhões, por meio de investidores parceiros e crowdfunding. A partir de R$ 3 mil é possível virar sócio da empresa.
Para Martins, da 100% Livre, o desafio é reduzir os custos e fazer os produtos das fazendas verticais concorrerem diretamente com as folhosas convencionais. Hoje, uma alface produzida neste sistema hidropônico chega na gôndola em São Paulo custando entre R$ 7,99 e R$ 8,99, contra R$ 3,99 da alface comum. “Não acredito que o modelo seja apenas para vender ‘gourmet’. É uma estrutura escalável e de repetição, então, a gente quer ser grande. Daqui a um ano, com dez fazendas operando com capacidade total, vamos chegar a 4% ou 5% do mercado”, prevê o executivo.
Martins aproveita para prestar reconhecimento à Embrapa, parceria no desenvolvimento da tecnologia. “Acho que todo brasileiro deveria ter muito orgulho da Embrapa e seu papel nesse desafio de alimentar a população. A gente só consegue fazer o que estamos fazendo por causa deles”, conclui.
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