
“Esses solubilizadores de fósforo e potássio e os promotores de crescimento é que estão mudando o jogo. Estão fazendo que a planta aproveite mais o que já temos retido no solo. Isso não vai eliminar futuras fertilizações do produto químico, mas existem estudos que projetam que poderemos reduzir em 30% a 40% o uso de fertilizante anual nas culturas”, aponta Araújo. “Se antes o produtor usava 100 toneladas de adubo, esse ano vai usar 50 a 60 com o biológico, o que é mais barato e vai acabar tendo, no final, o mesmo rendimento”, assegura o pesquisador.
Na safra de 2019-20, o Biomaphos – nome comercial do produto solubilizador de fósforo no solo – foi utilizado para desprender o mineral em 300 mil hectares de plantações no país; na safra seguinte, 1,5 milhão de hectares; em 2021-22, bateu na casa dos 3,5 milhões de hectares. No próximo ciclo, a projeção é que a tecnologia alcance 10 milhões de hectares. Vendido de forma líquida, o pacote de bactérias custa cerca de meia saca de soja para aplicação em um hectare. E entrega produtividade, em média, de 5 sacas a mais por hectare.
Para o gerente de pesquisa da empresa Simbiose, Artur Soares, é um caminho sem volta. “Estamos falando de demanda mundial para uma agricultura mais verde, mais limpa. A gente tira da natureza ativos que estão ali e transforma em tecnologia e produto. Hoje uma das maiores empresas do mundo, a Corteva, fala a mesma língua que a gente”. Na última década, a média de crescimento da empresa gaúcha tem sido de 52% ao ano. Uma nova fábrica, a um custo de R$ 280 milhões, está sendo erguida em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba.
A concorrência está acirrada. A empresa holandesa de bioinsumos Koppert, que tem unidade em Piracicaba (SP), viu o faturamento crescer 93% ao ano nos últimos dois anos. Ou seja, praticamente quadruplicou de tamanho no período. Nas duas últimas safras, um dos carros-chefes do portifólio biológico foi o fungo Isaria fumosorosea, utilizado para parasitar e matar a cigarrinha do milho em 2,5 milhões de hectares de plantações. O crescimento do mercado, segundo Rodrigo Rodrigues, agrônomo e gerente da Koppert, se dá por conta da “pressão de todos os lados”. “Tem a pressão do mercado consumidor e do mercado comprador. O produtor está no meio e é quem puxa essa demanda. Ele começou a entender que as ferramentas biológicas hoje são tão importantes como as químicas. A eficácia dos produtos gerou confiança nas empresas e isso tem levado o mercado a dar uma rampada nos últimos anos”, relata.
Uma praticidade dos biológicos é que, diferente dos produtos agroquímicos, podem ser utilizados para todas as culturas após o registro. “O registro é feito por alvo de ação. Se for para a lagarta helicoverpa armígena, por exemplo, tanto faz se é aplicado na soja ou no algodão”, aponta a diretora da área de Biológicos da associação agrícola de pesquisas CropLife Brasil , Amália Borsari. Ela acrescenta que hoje, no País, todas as empresas desenvolvedoras de agroquímicos estão trabalhando também com o registro de produtos biológicos. “Estão por vir inúmeras novas tecnologias que vão fornecer uma solução integrada, do químico e do biológico, para os produtores”, emenda.
A lição, repetida por pesquisadores e produtores, é que na agricultura não existe uma “bala de prata” ou tecnologia que resolva todos os problemas. A tônica é o manejo integrado, com uso de inimigos naturais de pragas e doenças, boa genética, fertilidade do solo, rotação de culturas e aplicação de defensivos químicos e biológicos.
O mercado de bioinsumos no Brasil é recente, só foi regulamentado em 2006. Ainda movimentam apenas R$ 1,8 bilhão anuais, contra R$ 50 bilhões dos agroquímicos. Mas cresce a uma taxa de 35% ao ano. A projeção da Croplife é que as vendas dos insumos biológicos alcancem R$ 16 bilhões em 2030. O pioneiro da fixação de nitrogênio Sólon Cordeiro de Araújo se diz otimista. "O Brasil é líder mundial no uso de inoculantes e o mais avançado na parte de fixação biológica de nitrogênio. E será também no uso de bactérias para liberar potássio e fósforo. É algo da nossa produção agrícola ambiental que pouco se fala. Uma vantagem que temos e que é pouco explorada em nível de comunicação".
Celso Moretti, presidente da Embrapa, conclui: “Estamos diante de um crescimento exponencial da demanda. O Brasil pode se tornar uma das maiores potências mundiais de bioinsumos nos próximos anos”. Em 2014, apenas dois novos produtos biológicos tinham sido registrados no País; no ano ado, foram 87. Atualmente, já são 514 registros ativos à disposição do mercado.
Veja, abaixo, alguns dos bioinsumos que estão sendo desenvolvidos pela Embrapa Agrobiologia (www.embrapa.br/agrobiologia), que estão no estágio de "ativos para parceria" com a iniciativa privada.
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Na primeira versão desta reportagem, a pesquisadora Amália Borsari apareceu como diretora-executiva da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), cargo que ela já exerceu anteriormente. Hoje Amália é diretora da associação agrícola Croplife Brasil.
Corrigido em 30/06/2022 às 09:57